Ana Gomes – avanços e recuos na candidatura à presidência da república de 2020

Há poucos dias, ao longo de uma deslocação conjunta do Primeiro-Ministro e do Presidente da República à fábrica da Autoeuropa, António Costa deixou transparecer que muito provavelmente ali regressaria com Marcelo Rebelo de Sousa durante o ano inicial do 2º mandato da presidência do mesmo.

Soaram os alarmes no PS, e em poucas horas começaram a ouvir-se opiniões desde dentro do partido, algumas em concordância com as afirmações do primeiro ministro, outras que não queriam acreditar que o dirigente máximo do partido posso ter lançado a mais que provável recandidatura de Marcelo à presidência.

Actual contexto político

Com o aproximar das eleições políticas presidenciais de 2021, remanesce a incerteza sobre um eventual candidato forte no centro-esquerda. Sempre certo que ainda estamos a enfrentar os desafios de uma pandemia e que o cenário mais provável é que comecemos a lidar com o longo descontentamento de uma recessão económica, António Costa, joga também o seu futuro político um pouco com as eleições presidenciais, em Janeiro de 2021.

Possibilidade Ana Gomes candidatar-se

Ana Gomes, no seu habitual comentário político na SIC notícias, esteve na linha da frente a opinar contra esta atitude de António Costa e deixou no ar a possibilidade de avançar mesmo com uma candidatura a Belém. Uma candidatura de Ana Gomes (que anteriormente não tinha sido marcada mas que, agora, antes desta feliz facilidade, se sente realmente obrigada a avançar) pode ser bem vista pelo sistema democrático português e poderá ser encorajada e ser importante num actual contexto em que o partido, Chega, ganha cada vez mais potenciais eleitores na direita mais conservadora.

Embora Ana Gomes tenha todo um passado baseado numa celebração do poder e, por isso, seja vulnerável a tentativas de ligação aos podres do poder, as suas perspectivas públicas mostram o oposto.

Nenhum líder político do PS, do PSD ou do CDS (o arco convencional da governação) teve a capacidade de ter a coragem de lutar, bem como de denunciar alguns dos males existentes em Portugal, como a corrupção, a evasão fiscal, a promiscuidade entre interesses estabelecidos – desde as instituições financeiras às grandes empresas – e o Estado, a subjugação dos líderes políticos aos interesses do futebol ou mesmo da política internacional (particularmente na U.E. Europeia e nos Estados Unidos). Tenha-se como o recente exemplo de Ana Gomes denunciar Isabel dos Santos enquanto noutros tempos Paulo Portas, José Miguel Júdice e outros que  bajulavam a multi-milionária de Angola).

Ana Gomes é alguém de convicções fortes e determinada. Mas não só, pois uma eventual nomeação da mesma para presidente da república seria uma lufada de ar fresco nas posições de liderança política nacional, em que uma mulher nunca foi Presidente da República e também só por menos de um ano foi Primeira-Ministra, na altura, Maria de Lurdes Pintasilgo.

Em eleições políticas governamentais em que nem toda a direita está satisfeita com Marcelo, bem como em que actualmente introduziu ou prepara candidatos, não ter uma candidatura sólida no centro-esquerda poderia ser considerado um crime contra a liberdade nacional.

Recuo por parte de Ana Gomes e expectativa

No entanto, após essa inicial determinação por parte da antiga euro-deputada, a mesma veio recuar um pouco na sua movimentação política tendo mais recentemente não dar por garantida a candidatura a Belém. Por ventura, espera por outras movimentações quer à esquerda, mas principalmente na parte mais à direita da política portuguesa num eventual surgimento de algum candidato forte que possa diminuir o potencial de abarcar eleitorado por parte de André Ventura e da sua força política no Chega.

Se é verdade que na história das todas as eleições de Presidenciais todos os presidentes acabaram por completar dois mandatos e que Marcelo tem um a sua imagem muito reforçada no decorrer do seu primeiro mandato, não há nada mais prejudicial numa liberdade do que tomar como certo os resultados esperados. Caso contrário, por que razão deverão realizar-se eleições políticas? É neste contexto, que uma eventual candidatura de Ana Gomes, mas também de outras personagens políticas é muito importante para o sistema político português